quarta-feira, 25 de maio de 2016

Web Radio Philos Esporte Machismo no Futebol.

Lucas Vidigal – Seleção Universitária – especial para o Estado
BRASÍLIA – Ruas da capital federal estiveram vazias durante o jogo entre Brasil e Itália na tarde de sábado, 22. Exceto o Eixo Monumental, no centro da cidade. Cerca de 3 mil pessoas se reuniram na Marcha das Vadias, movimento contra o machismo e por direitos da mulher – inclusive o de poder gostar de futebol sem sofrer qualquer tipo de discriminação.
Entre gritos de guerra pela descriminalização do aborto e pelo fim da violência contra a mulher, o futebol também estava em pauta. “Tem muito machismo dentro e fora de campo. A mulher ainda é vista como incapaz de jogar ou de entender do esporte”, comentou a estudante de serviço social Michelle Pereira.
O jogo ficou em segundo plano para os manifestantes. Michelle diz que adora futebol e torce pelo Flamengo, mas preferiu sair às ruas. “Não faço questão de ir ver a partida logo hoje, dia de lutar contra a discriminação da mulher”, afirma.
Foi uma manifestação pacífica e diferente da onda de protestos que tomou o Brasil nas últimas semanas. “Nossa pauta aqui é a luta pelo direito da mulher ser o que ela quiser sem oprimida pelo homem e pela sociedade”, explica a professora Clara Sampaio, uma das manifestantes.

Passeata teve 3 mil pessoas, segundo PM (Lucas Vidigal/Seleção Universitária)
Para Clara, o fato de muitas mulheres serem distantes do futebol é fruto de cultura que vem da infância, quando o menino é presenteado com uma bola e a menina, boneca. “Infelizmente, o futebol feminino não tem prestígio porque nós somos motivo de piada quando jogamos”, afirma.
Apesar de a Marcha das Vadias focar a luta pelos direitos da mulher, era possível ver muitos homens na manifestação. O estudante de direito André Portela é fã de futebol e trocou a Copa das Confederações pela passeata. “A briga contra a opressão delas é mais importante que a partida de hoje”, disse.
André citou a questão da homofobia como outro preconceito presente no mundo da bola. “Chamar um jogador de ‘viado’ só reforça a condição negativa do homossexual no meio do futebol”, argumentou.
A Marcha das Vadias surgiu no Canadá, em 2011, depois de um policial ter dito que mulheres “que se vestem como vadias estão mais sujeitas a sofrerem estupro”. Na época, movimentos feministas do mundo inteiro repudiaram a frase, que deu nome à manifestação, e alegaram que “roupas curtas não são convites a estupro”, uma das bandeiras da passeata.

Mulheres atentas à partida
Enquanto a Marcha das Vadias seguia pelo centro da cidade, bares de Brasília estavam lotados – de homens e mulheres – para a exibição de Brasil e Itália. A fisioterapeuta Daniele Maia pensou em ir à passeata, mas já havia combinado com as amigas de ir assistir à partida. “O preconceito está na nossa cultura, desde o momento em que a gente acha estranho quando nossas filhas dizem que querem jogar futebol”, afirma.

Bar na Asa Sul tinha mesa só de mulheres (Lucas Vidigal/Seleção Universitária)
As duas amigas que acompanharam Daniele na mesa só de mulheres tinham gostos diferentes em relação ao esporte. O amor da médica Rosana Coccoli pelo futebol começou de berço. A família, corintiana, não perde a oportunidade de assistir às partidas juntos. “Sempre gostei muito de assistir e de jogar. Era goleira na escola”, contou.
Já a fisioterapeuta Celisa Menezes foi acompanhar as amigas e aproveitar para bater papo. “Até gosto de futebol, mas não entendo de nada”, diz. Torcer pelo Brasil é o que faz Celisa ligar a televisão para ver jogos. “Mesmo com tudo de ruim que está por aí e com essa seleção não tão boa, sou patriota e sempre torço”, disse.

Mulher observa os lances de Brasil x Itália (Lucas Vidigal/Seleção Universitária)

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