sexta-feira, 16 de outubro de 2015

XIV Semana de Filosofia da UESC

A Semana de Filosofia da UESC tem sido marcada pelo ideal de oferecer à comunidade acadêmica um espaço de contato com diferentes escolas de pensamento e perspectivas filosóficas que, de outra forma, dificilmente seriam conhecidas do grande público. Nessa perspectiva, escolhemos como temática de sua décima quarta edição, uma das mais importantes tradições da filosofia contemporânea, a tradição hermenêutica. O termo “hermenêutica” remete ao deus grego Hermes, o deus mensageiro, patrono de todos os sistemas de troca e, por conseguinte, padroeiro dos comerciantes, mercadores e ladrões, mas também dos diplomatas já que regula também as trocas que ocorrem através da linguagem, as trocas de ideias, compromissos, informações. É nesse último sentido que se situa a figura do hermeneuta como aquele que tanto recebe como interpreta uma mensagem, já que não é possível separar uma coisa da outra. Platão emprega o termo hermeneuta para se referir aos poetas que estariam encarregados não só da exposição, mas também da interpretação das palavras e textos. Desde sua origem na Antiguidade Clássica, portanto, a hermenêutica coloca o problema do compreender e interpretar a palavra do autor, tendo em vista a preservação do significado. Porém, é no contexto do humanismo renascentista e da Reforma Protestante que a hermenêutica ganha um novo impulso com os problemas referentes à interpretação da Bíblia e dos autores clássicos. Tal problemática atinge o seu ponto crítico com os trabalhos do teólogo e filósofo Friedrich Schleiermacher que elevou o compreender hermenêutico a um tema da epistemologia filosófica. Com sua pergunta “afinal como é possível o compreender?” Schleiermacher radicalizou o questionamento do compreender historicamente mediado da Bíblia, colocando a questão das condições de possibilidade e validade do conhecimento objetivo nas ciências humanas. Questão que foi aprofundada posteriormente por W. Dilthey em sua defesa de uma metodologia própria das ciências humanas que não pode ser reduzida aos critérios de cientificidade das ciências naturais, dando início assim, a famosa controvérsia entre o explicar das ciências naturais e o compreender das ciências humanas. Tema que permanece vivo até os nossos dias com vários desdobramentos para a epistemologia das ciências humanas. Outro momento marcante do desenvolvimento da hermenêutica foi sua radicalização com as obras de Martin Heidegger e Hans Georg Gadamer em que os autores mostram que a própria relação sujeito-objeto do conhecimento científico é dependente da pré-estrutura do compreender, já que esta está sempre embutida na estrutura contextual do ser-no-mundo como compreensão do significado coerente do mundo. Obviamente, as posições sobre a dimensão ôntica da hermenêutica em Heidegger e Gadamer abriram campo a uma vasta e produtiva discussão sobre os limites da hermenêutica e suas relações com as ciências humanas, ideologia e cultura. Marcam esse período mais recente as obras de Paul Ricoeur, Jürgen Habermas, Gianni Vattimo, entre outros. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário